segunda-feira, maio 23, 2005

BIENAL – A FARRA DO LIVRO

Freqüento a Bienal do Livro desde que ela se realizava no Copacabana Palace e levava umas poucas horas para ser percorrida. Agora, no Riocentro, pode-se gostar um dia e não ver tudo. Quando se transferiu para aquele fim de mundo, perguntava-se quem arriscaria ir até lá. Na ultima, compareceram cerca de 600mil pessoas e nesta estão sendo esperadas outras tantas, desmoralizando a piada sobre a distância que se ouvia no começo: “Pena que não é no Rio de Janeiro”. Ou então: “Se é aí o Riocentro, onde será o Rioperiferia?”
Há quem diga que a Bienal é para quem não gosta de ler; leitor que é leitor, o iniciado, o fanático “tem” a sua livraria particular e o seu livreiro especial, a quem faz encomendas, com quem troca opinião, fala dos lançamentos e comentas novidades. Talvez seja isso. Bienal é outra coisa, é festa. O que ela faz é promover a aproximação lúdica, alegre, prazerosa das pessoas, principalmente crianças e jovens, com os livros e seus autores.
Se esse contato físico vai criar dependência, não se sabe. Mas seria bom que virasse habito e que este, com o tempo, fizesse aumentar entre os jovens o número de viciados em leitura. Não importa que comecem lendo até o pior porque aos poucos podem ir aprimorando o gosto e chegar ao melhor. O fato é que a Bienal ajuda nesse processo de iniciação. O que mais se vê lá é criança brincando com livro – pegando, folheando e até lendo. É assim que começa o vício. Experimentando.
Na disputa desigual com a televisão e a internet, tem-se que apelar mesmo, seduzir, conquistar, dirigir os condimentos consumistas dos visitantes, a compulsão de compra, para os livros. Não vivemos numa sociedade de consumo e de espetáculo? Então pronto. Os elitistas que me desculpem, mas o aspecto de feira, a cara de supermercado, as pessoas saindo com sacola cheias, os filhos atormentando os pais com pedidos, tudo isso é fundamental para tentar melhorar mais um desses índices que envergonham a cidade: segundo o DataGois/UniCarioca, quatro em cada de cariocas lêem apenas um livro por ano. Não é engano não – um por ano. E isso significa que há muita gente que nem isso.
Não sei o que é melhor, freqüentar a Beinal como leitor ou como autor. De qualquer jeito, posso garantir que, mais do que a farra do boi e outras farras que estão na moda, a do livro no Riocentro vale a pena, é muito divertida e não tem contra indicações.

ZUENIR VENTURA
O GLOBO, Sáb, 14 de maio de 2005.